domingo, 18 de agosto de 2013

Flores raras para inglês ver






O título Flores Raras, novo longa do diretor Bruno Barreto, faz jus à sua proposta estética: é o retrato "raro" do Brasil caricato para inglês/americano ver. Já no início, vemos imagens tipo cartão postal do Rio de Janeiro, ao som de Copacabana, ou outro clássico manjadísimo da bossa nova cantado em inglês-português, e parece que estamos diante da propaganda de algum órgão de turismo do Rio de Janeiro. Quaisquer semelhanças entre essa opção estética de Barreto e a de seu outro filme, Bossa Nova, não são mera coincidência.

Os planos pouco imaginativos do Rio, na verdade, vêm do olhar de uma estrangeira com a sensibilidade da grande poetisa americana Elisabeth Bishop e por isso mesmo, deveriam ser menos lugar-comum. Mas o Brasil tipo exportação não é o único problema. Quase todo o filme de Barreto peca pelos excessos e falta de sutileza e o roteiro entrega o ouro já nos primeiros minutos. Não só o Brasil de Barreto é mastigado, mas as atuações, as falas, a narração, tudo é didático e peca pelos excessos. Os atores dizem tudo o que pensam, sem que haja espaço para a dúvida, a dissimulação e a ambiguidade em nenhum momento. Eles entram em cena e “anunciam” o que sentem e pensam, o que aconteceu ou está para acontecer. Ao fim, o filme é feito de sketches, blocos que contam fatos marcantes reais da vida das personagens, às vezes sem muita conexão uns com os outros. Durante o rompimento com Bishop, por exemplo, Lota entra em depressão e vai parar num hospital psiquiátrico, sem que o espectador acredite, porque o roteirista em nenhum momento “planta” anteriormente uma cena em que a atriz esteja mal, soando inverossímil – principalmente pelo fato do acontecimento ter sido também anunciado pela boca de um personagem. 

Há algumas críticas da mídia especializada à atuação da lésbica “macho” de Glória Pires – no papel de Lota, paisagista brasileira com quem Bishop tem um caso no Brasil – e embora seja uma atriz admirável, também se perdeu na caricatura em algumas cenas. Não sei se seria o caso de culpá-la, pois quem regula a intensidade das emoções é o diretor e não sabemos se ele pediu isso dela.

Os poucos momentos verossímeis são as belas cenas eróticas em que ambas as atrizes principais se entregam verdadeiramente ao papel. Os planos solitários da atriz australiana Miranda Otto, que vive Bishop, escrevendo e buscando inspiração, sua relação com a natureza tropical e exuberante na casa de Lota em Petrópolis, transmitem muita veracidade. Percebe-se que essa relação entre a atriz e aquele mundo “exótico” existiram de maneira genuína – com o Rio mostrado de maneira menos óbvia que as cenas da capital.. A atuação comedida e verdadeira de Miranda Otto, que vive Bishop, são o grande trunfo do filme, ainda que o roteiro mal escrito obrigue-a a dizer ao público, com todas as letras, que é reservada - e não deixe que ele perceba isso na personagem, subestimando-o. São muitos os problemas de roteiro e direção, que não compensam as belas cenas do olhar e dos gestos de Miranda, com a mata atlântica ao fundo e o som de uma boa trilha sonora.

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