O título Flores Raras, novo longa do diretor Bruno Barreto, faz jus à sua proposta estética: é o retrato "raro" do Brasil caricato para inglês/americano ver. Já no início, vemos imagens tipo cartão postal do Rio de Janeiro,
ao som de Copacabana, ou outro clássico manjadísimo da bossa nova cantado em
inglês-português, e parece que estamos diante da propaganda de algum órgão de
turismo do Rio de Janeiro. Quaisquer semelhanças entre essa opção estética de
Barreto e a de seu outro filme, Bossa
Nova, não são mera coincidência.
Os planos pouco imaginativos do
Rio, na verdade, vêm do olhar de uma estrangeira com a sensibilidade da grande poetisa
americana Elisabeth Bishop e por isso mesmo, deveriam ser menos lugar-comum.
Mas o Brasil tipo exportação não é o único problema. Quase todo o filme de
Barreto peca pelos excessos e falta de sutileza e o roteiro entrega o ouro já
nos primeiros minutos. Não só o Brasil de Barreto é mastigado, mas as atuações,
as falas, a narração, tudo é didático e peca pelos excessos. Os atores dizem tudo o
que pensam, sem que haja espaço para a dúvida, a dissimulação e a ambiguidade em nenhum
momento. Eles entram em cena e “anunciam” o que sentem e pensam, o que
aconteceu ou está para acontecer. Ao fim, o filme é feito de sketches, blocos que contam fatos
marcantes reais da vida das personagens, às vezes sem muita conexão uns com os
outros. Durante o rompimento com Bishop, por exemplo, Lota entra em depressão e
vai parar num hospital psiquiátrico, sem que o espectador acredite, porque o
roteirista em nenhum momento “planta” anteriormente uma cena em que a atriz
esteja mal, soando inverossímil – principalmente pelo fato do acontecimento ter
sido também anunciado pela boca de um personagem.
Há algumas críticas da mídia
especializada à atuação da lésbica “macho” de Glória Pires – no papel de Lota, paisagista brasileira com quem Bishop
tem um caso no Brasil – e embora seja uma atriz admirável, também se
perdeu na caricatura em algumas cenas. Não sei se seria o caso de culpá-la,
pois quem regula a intensidade das emoções é o diretor e não sabemos se ele
pediu isso dela.
Os
poucos momentos verossímeis são as belas cenas eróticas em que ambas as
atrizes principais se entregam verdadeiramente ao papel. Os planos
solitários
da atriz australiana Miranda Otto, que vive Bishop, escrevendo
e buscando inspiração, sua relação com a natureza tropical e exuberante
na
casa de Lota em Petrópolis, transmitem muita veracidade. Percebe-se que
essa
relação entre a atriz e aquele mundo “exótico” existiram de maneira
genuína –
com o Rio mostrado de maneira menos óbvia que as cenas da capital.. A
atuação comedida e verdadeira de Miranda Otto, que vive Bishop, são o
grande trunfo do filme, ainda que o
roteiro mal escrito obrigue-a a
dizer ao público, com todas as letras, que é reservada - e não deixe que
ele perceba isso na personagem, subestimando-o. São muitos os problemas
de roteiro e direção, que
não compensam as belas cenas do olhar e dos gestos de Miranda, com a mata atlântica ao fundo e o som de uma boa
trilha sonora.
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